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sábado, 29 de agosto de 2009

Leitor compulsivo

Comecei a ler com uns 4 anos de idade. Sozinho, com revistinhas da Turma da Mônica. É óbvio que eu não me lembro dessa história, mas como todo mundo me conta isso, deve ser verdade. Foi desde essa época que eu adquiri um péssimo hábito: virei um leitor compulsivo.

Sim, é realmente um péssimo hábito. Imagina você não poder sair de casa sem estar acompanhado de um livro ou não conseguir dormir sem um livro na sua cabeceira. Quando você olha para o lado e vê que tem pelo menos cinco livros esperando para serem lidos ao mesmo tempo, você percebe que está passando dos limites.

E é simplesmente impossível deixar qualquer um eles de lado. Aliás, eles são a única coisa que você não consegue deixar de lado. Você passa a não ler mais os textos da faculdade, não come, não sai com os amigos, não toma banho. Enfim, você perde a sua vida por causa deles.

É por isso que eu estou lançando a campanha “Por um uso mais consciente dos livros”. Tá, o nome ainda é estranho, mas ele será trabalhado com o tempo. O importante é que eu estou lançando essa campanha para mostrar as pessoas o malefício do uso incontrolado dos livros.

Ler vários livros de uma vez faz com que você confunda as histórias. E isso é um fato confirmado cientificamente. Só para dar um exemplo idiota, mas seria como se você começasse a ler o conto da Chapeuzinho Vermelho e, quando ela chegasse na casa da vovó, a velhinha estaria de boa, papeando com sua comadre Dona Benta, do Sítio do Pica Pau Amarelo.

E olha que isso é só um detalhe pequeno, principalmente porque juntou duas velhinhas bem simpáticas. Mas a situação é muito mais grave. Além de se misturarem, as histórias começam a ganhar vida e fazer parte do seu dia a dia. É muito perigoso quando isso acontece. Significa que você realmente precisa de um tratamento psicológico.

Fica a dica para as pessoas que, como eu, simplesmente não conseguem se controlar na frente de livros. Deixa eu sair, porque Miranda Priestly está me esperando na minha cama... espero ter uma noite agradável com aquele diabo vestido em Prada.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A Loja


Semana passada estava caminhando pelo Edifício Maleta, passando pelos conhecidos sebos e estabelecimentos do centro comercial, quando avistei aquela loja. Logo após a relojoaria do Seo Roberto, um cubículo no fim do terceiro andar. Tão simplório quanto discreto, as pessoas chegavam e voltavam do final do corredor sem notá-lo.

Eu mesmo não saberia dizer porque o percebi ali. Uma fachada de pouco mais de dois metros, vitrines vazias e empoeiradas, uma pequena passagem coberta por uma cortina artesanal de bambu, sobre a passagem três letras rabiscadas com carvão: Oca.

Entrei. Um balcão simples de madeira maciça. Uma senhora de pele vermelha, olhos negros como o ponto mais distante do universo [e pareciam mesmo estar lá] de cabelos branquíssimos e extremamente lisos, de pé atrás do balcão. Um livro sob suas mãos e prateleiras vazias. Nada mais. Minto, havia também a poeira, muita poeira.

Apesar do claro tipo indígena da mulher, não conseguia parar de pensar na ironia do nome do lugar e se seria intencional. Perguntei a primeira coisa que me veio a mente:

- A senhora tem alguma coisa para dor de cabeça? Um paracetamol? – A pergunta foi uma tentativa de descobrir o que era aquilo.

- Sim e não. – Respondeu com a voz firme e o olhar sem sair de mim.

- Sim e não?

- Não vendo remédios. Mas talvez tenha algo que possa curar sua dor. Contra dor, serenidade.

Dizendo isso, empurou o livro que estava a sua frente em minha direção. Desconfiado o peguei. Aquilo tudo não passava de uma tentativa de criar um “ar místico” ou coisa do tipo. “Essa mulher não passa de uma velha índia que vende ervas” foi meu veredicto mental.

Folheando o livro, quase comecei a rir de nervoso. Mas aquilo estava tão caótico que fiquei, confesso, apreensivo. Não havia ervas, peças de artesanato, roupas, comidas, nada de convencional. Era uma lista de situações do cotidiano, momentos bons, maus, maravilhosos e terríveis, todos catalogados e com preços exorbitantes.

- Acordar ao lado de quem se ama... encontrar dinheiro inesperadamente... ficar do lado de fora de um ônibus que parte... bater com o dedo mindinho na quina do guarda-roupas... quando criança, abrir o tão desejado presente no Natal.... O que é isso? O que você vende?

- Sentimentos, garoto. Momentos especiais na vida do Homem. Basta pedir, pagar e terá.

Continuei a ler.

“Ver o último suspiro e sem poder mudar o que virá... ter o último suspiro... sussurrar canções ao pé do ouvido... explodir plástico bolha... ficar o dia de chuva debaixo do edredon vendo filmes... o primeiro beijo... abraço forte... quinze dias sozinho... quinze anos sozinho... nascimento de um filho... morte de um filho...”

Foi quando cheguei a uma outra sessão “essencialmente puros” e os preços eram ainda maiores, cifras de dez dígitos.

- Serenidade... paz... dor... agonia... honestidade... E esses? Como é possível vender essas coisas?

- Cada um tem seu papel nessa vida, esse é o meu. São pequenas doses evanescentes que devem ser injetadas diretamente no coração, duram cerca de três horas cada uma.

- Os preços são exorbitantes...

- Bem, como lhe disse, são altamente voláteis e, assim como na aplicação, a coleta deve ser direta e imediata. Nesses termos, acho que é um preço justo. Pelo menos, espero que seja.

- ... E... você vende muitos?

- Sem dúvida, é um ótimo presente. Alguns são mais indicados para amigos e outros para inimigos, mas todos são muito úteis, em um ou outro sentido. O meu azar é não ficar com o dinheiro, mas é como dizem, deveria ter pensado bem no que desejava.

Àquela altura já estava completamente imerso em todo aquele ambiente. Pedi para que ela me mostrasse algum, só por curiosidade. A índia abriu o sobretudo pardo que vestia. Pequenas seringas se amontoavam sob a vestimenta. Líquidos de todos os tipos, mais viscosos ou não, de várias cores. Alguns pareciam mais pesados e outros, tão leves que posso lhe dizer, meu amigo, era como se estivessem vivos.

Estava convencido, freneticamente comecei a revirar o catálogo. Eu não ia perder aquela chance. O que mais é desejado por todos os homens e mulheres sobre a face da terra poderia ser meu. Não me importava mais com dinheiro a pagar, tinha algumas economias, alguns conhecidos, poderia fazer empréstimos, vender coisas... não importava, se estivesse ali eu o adquiriria. Na página 467, terceira linha: Juventude!

Sem olhar o preço, disse:

- Quero um desses.

Desde quando entrei na Oca, aquele foi o primeiro momento que acreditei que a anciã fosse humana, percebi pelo escárnio do sorriso que surgiu no rosto enrugado.

- Esse está em falta, sua geração não tem mais portadores dessa essência, apenas adultos em tamanho miniatura. Mas, posso lhe ajudar.

Ao terminar de falar, abriu uma gaveta próxima, como se tudo aquilo já estivesse previsto em sua mente. Abriu-a e me atirou um saquinho com alguns comprimidos de Sildenafil.

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Gripe macaca?

Enfim, acho que não há mais nada que possa ser falado da gripe suína. Todas as piadas, todas as comparações e ironias já foram feitas. Só uma coisa eu acho injusta. Como todo esse negoço de gripe suína, não há animal que apareça mais na mídia que o porco. E os macacos?

Deixem eu lembrar algo para vocês, seus suíno-obsecados: Segundo Darwin, somos NÓS a razão pela qual os humanos existem. Não os porcos. Nós! E agora somos vítimas de uma esquecimento midiático? Por favor! Cadê, eu pergunto, cadê o polegar opositor dos porcos? O crâneo desenvolvido? A inteligência avançada? Tá, essa eu estrapolei, mas venhamos e convenhamos que somos mais dignos de atenção de que um simples suíno espirrando.

Isso sem falar que, se eles têm gripe, nós temos o AIDS! Nunca ouviu falar que ele veio dos macacos? E não preciso nem comparar com essa gripezinha, né? E os piolhos, que infernizam sua vida quando saem dos nosso pêlos? E as doenças nas nossas unhas? Somos uma incubadora de doenças, e vocês só nos porcos, que gripe aqui, que gripe lá, gelzinho e máscaras. Me dá um tempo.

Enfim, que mais posso dizer? Somos melhores. Somos piores. Somos muito mais dignos de atenção. Falem bem, falem mal, mas falem. Por favor, pelo amor de Deus, nem que seja duas linhas! Que custa mencionar?

sábado, 15 de agosto de 2009

Eu picareto, tu picaretas...

Estava me preparando para picaretar o post de hoje, mas resolvi simplesmente não fazer isso. Cansei de picaretagens na minha vida. Aprendi a arte de picaretar muito cedo e nunca mais parei. Acho que eu devia entrar em um daqueles grupos de ajuda, tipo alcoólicos anônimos. Só que esse ia ser Picaretas Assumidos Unidos. Ou PAU, como queira chamar...

Boa noite PAU, eu sou Kikazaru e estou há duas horas sem picaretar alguma coisa. Tudo começou há muito tempo, quando eu resolvi copiar um exercício do coleguinha. Copiei apenas a letra A do exercício 36, mas o mal já estava feito. Desde então eu nunca mais consegui parar.

Passei a copiar exercícios inteiros, inventar desculpas para não arrumar meu quarto, praticamente xerocar relatórios e entregá-los ao professor, comecei a matar aulas e tratá-las com desprezo. No estágio eu fazia de qualquer jeito o que eu era mandado fazer só para poder sair mais cedo e passava muito tempo na frente do computador "pesquisando" assuntos para o trabalho.

Enfim, uma vida de prosmicuidade com relação à picaretagem. Atingi um estado crítico. Simplesmente não consigo mais parar. Antes de começar a fazer qualquer coisa eu já penso em como poderei picaretá-la. Minhas aulas foram escolhidas de acordo com o nível de picaretagem do professor.

Comecei a picaretar até as reuniões do PAU. Mandava substitutos, dizia que eu não podia vir porque estava com uma doença muito grave, não fazia os exercícios anti-picaretagem. Mas agora eu cansei, quero ser um macaco diferente, cumpridor de meus deveres e altamente responsável.

É por isso que estou aqui hoje. Gostaria muito que vocês que já passaram por esse processo me auxiliassem. O primeiro passo eu já dei, não picaretando o post de hoje, mas vai ser difícil manter isso por mais duas horas. É mais forte que eu, não consigo resistir.

Mas estou aqui, tentando. Quem puder me ajudar, favor me mandar um e-mail, pois tenho certeza de que arrumarei alguma desculpa para não vir na próxima reunião.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Os Mestres III


Primeira metade do século XIX. Um mulato, gago, epilético e muitíssimo pouco regular na escola. Que futuro tem um tipo como esse? Bem, eventualmente, essa pessoa pode vir a se tornar o maior escritor da língua portuguesa do Brasil [com o perdão dos Rosianos].

Esse mês, resolvi homenagear um dos cariocas que mais admiro. Sua obra possui um humor irônico e peculiar. Há um jeito despojado, desprendido, quase que desdenhoso, de explorar a alma humana e o comportamento em sociedade. Conhecido pela grande maioria por seus renomados romances e contos como Memórias Póstumas de Brás Cubas, Dom Casmurro e A Sereníssima República. Como se não bastasse, foi um dos que iniciou no país o meu estilo literário predileto, as crônicas.


Com vocês, o mestre: Machado de Assis.

O Nascimento da crônica

Há um meio certo de começar a crônica por uma trivialidade. É dizer: Que calor! Que desenfreado calor! Diz-se isto, agitando as pontas do lenço, bufando como um touro, ou simplesmente sacudindo a sobrecasaca. Resvala-se do calor aos fenômenos atmosféricos, fazem-se algumas conjeturas acerca do sol e da lua, outras sobre a febre amarela, manda-se um suspiro a Petrópolis, e La glace est rompue; está começada a crônica.


Mas, leitor amigo, esse meio é mais velho ainda do que as crônicas, que apenas datam de Esdras. Antes de Esdras, antes de Moisés, antes de Abraão, Isaque e Jacó, antes mesmo de Noé, houve calor e crônicas. No paraíso é provável, é certo que o calor era mediano, e não é prova do contrário o fato de Adão andar nu. Adão andava nu por duas razões, uma capital e outra provincial. A primeira é que não havia alfaiates, não havia sequer casimiras; a segunda é que, ainda havendo-os, Adão andava baldo ao naipe. Digo que esta razão é provincial, porque as nossas províncias estão nas circunstâncias do primeiro homem.

Quando a fatal curiosidade de Eva fez-lhes perder o paraíso, cessou, com essa degradação, a vantagem de uma temperatura igual e agradável. Nasceu o calor e o inverno; vieram as neves, os tufões, as secas, todo o cortejo de males, distribuídos pelos doze meses do ano.

Não posso dizer positivamente em que ano nasceu a crônica; mas há toda a probabilidade de crer que foi coetânea das primeiras duas vizinhas. Essas vizinhas, entre o jantar e a merenda, sentaram-se à porta, para debicar os sucessos do dia. Provavelmente começaram a lastimar-se do calor. Uma dia que não pudera comer ao jantar, outra que tinha a camisa mais ensopando que as ervas que comera. Passar das ervas às plantações do morador fronteiro, e logo às tropelias amatórias do dito morador, e ao resto, era a coisa mais fácil, natural e possível do mundo. Eis a origem da crônica.

Que eu, sabedor ou conjeturador de tão alta prosápia, queira repetir o meio de que lançaram mãos as duas avós do cronista, é realmente cometer uma trivialidade; e contudo, leitor, seria difícil falar desta quinzena sem dar à canícula o lugar de honra que lhe compete. Seria; mas eu dispensarei esse meio quase tão velho como o mundo, para somente dizer que a verdade mais incontestável que achei debaixo do sol é que ninguém se deve queixar, porque cada pessoa é sempre mais feliz do que outra.

Não afirmo sem prova.

Fui há dias a um cemitério, a um enterro, logo de manhã, num dia ardente como todos os diabos e suas respectivas habitações. Em volta de mim ouvia o estribilho geral: que calor! Que sol! É de rachar passarinho! É de fazer um homem doido!

Íamos em carros! Apeamo-nos à porta do cemitério e caminhamos um longo pedaço. O sol das onze horas batia de chapa em todos nós; mas sem tirarmos os chapéus, abríamos os de sol e seguíamos a suar até o lugar onde devia verificar-se o enterramento. Naquele lugar esbarramos com seis ou oito homens ocupados em abrir covas: estavam de cabeça descoberta, a erguer e fazer cair a enxada. Nós enterramos o morto, voltamos nos carros, dar às nossas casas ou repartições. E eles? Lá os achamos, lá os deixamos, ao sol, de cabeça descoberta, a trabalhar com a enxada. Se o sol nos fazia mal, que não faria àqueles pobres-diabos, durante todas as horas quentes do dia?

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Texto presente no livro Crônicas Escolhidas 1994 - Editora Ática

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Um dia se é o vigilante, outro o vigiado

Outro dia estava em meu quarto, me preparando para ir para a academia, quando vi pela minha janela uma imagem singular: Um homem, de uns 50 anos, com o torso nu, estava olhando pela janela de um prédio perto do meu. O interessante é que o corpo dele saía da janela, ele parecia estar muito interessado no que olhava. De repente, ele entra e sai correndo para dentro de sua casa. Eu fiquei estranhado: O que ele poderia ter visto que faria ele sair correndo? Ou seria talvez que alguém estava vindo e ele não queria revelar sua personalidade voyeur?

A verdade era, ao mesmo tempo, inusitada e previsível: Ele voltou correndo segundos depois com um binóculo na mão, e procedeu a olhar de novo para fora. A corrida estava explicada: Ele tinha encontrado alguma cena muito interessante e não queria perdê-la, mas precisava analisá-la a fundo. Eu fiquei olhando, perplexo. Um homem olhando com binóculos pela janela me pareceu demais. Binóculos. Imaginem qual não foi meu pânico quando ele soltou o objeto com uma das mãos. Mas, graças a Deus, ele só coçou o pescoço.

Eu fui embora para a academia, mas a cena ficou na minha cabeça. Parecia-me perturbador. Mas, aos poucos, fui percebendo que o que eu tinha feito não era tão diferente assim. Tudo bem que eu não tinha ido pegar binóculos, mas a verdade era que tinha ficado preso por uma cena interessante (claro que nem remotamente tão interessante quanto a que o homem devia estar vendo). E, oh supressa, quando voltei em casa, olhei de novo pela janela. E outras vezes depois. Consegui descobrir, por exemplo, que o homem é casado, e têm no mínimo um filho e uma filha. O filho gosta de jogar videogame (de futebol, especificamente) até altas horas da manhã. No andar de baixo mora um casal também, com filhos pequenos, e o marido faz academia. Em outro prédio, num andar que fica na altura do meu, mora uma família de pai, mãe e filho, sendo que o pai trabalha com videogames (não tem hora que eu passe e ela não esteja sentado jogando, e os equipamentos no quarto mostram que é seu trabalho). Ele almoçam muito cedo e jantam muito tarde. Embaixo deles mora um homem de meia idade que adora fumar cigarros de palha na janela da área de serviço. Ele namora um outro homem bastante mais jovem, com quem costuma jantar lasanha. Uns andares mais acima, alguém acabou de se mudar e contratou uma empregada que dorme dentro de casa.

Pode até parecer que eu passo meus dias na janela. Não é assim. Com uns poucos momentos por dia eu cheguei a conhecer a rotina destas pessoas, me surpreendendo com o previsíveis que chegam a ser. E com o tanto que eu sei delas, e ao mesmo tempo o pouco que sei. É engraçado, comecei a criar uma certa ansiedade de um dia encontrá-las na vida real. Eu não sei seus nomes, mas posso adivinhar que hora irão dormir. Não sei sua história, mas sei com quem moram.

Comentei com outros. Não sou o único. Em horas de tédio, a janela chega a ser melhor do que a televisão. É uma espécie de Big Brother, sem o fingimento, as confissões e o prêmio. Mas, como no programa, você é uma testemunha a algo completamente alheio e sobre o que, no entanto, você passa a criar opiniões. Sobre seus cortes de cabelo, suas escolhas de roupa, a decoração de suas salas. Inclusive sobre seu comportamento. Outro dia eu vi o marido que vai à academia brincando com seus filhos no sofá e meu coração se encheu de ternura. Aí, claro, eu fui viver minha vida.

Há um pensamento, no entanto, que me incomoda: Será alguém testemunha da minha vida? Será que alguém já fez deduções sobre mim, sobre o que faço e como me comporto? Vai ver um dia olho pela janela e vejo um par de binóculos apontados para mim.

sábado, 8 de agosto de 2009

Maratona Biruta

Sejam bem vindos leitores Birutas. Na prova de hoje, Rufus o lenhador larga na frente, seguido de perto pelo Professor Aéreo e pelos Irmãos Rocha. E em último lugar está o vilão mais detestável de todos, Dick Vigarista, com seu companheiro Muttley. Mas os dois já pensam no próximo plano para tomarem a ponta de prova.

Ainda precisa falar de qual desenho vai ser o post de hoje? Não, né... é lógico que é corrida maluca (para os que ainda não sacaram qual é). Mas pra que isso, perguntaria o leitor desavisado. Isso tudo porque eu resolvi baixar os 34 episódios do desenho e assistir todos em um dia só... aproveitar as férias, né.

Sabe aquele gostinho de infância? Pois é, é exatamente isso que eu senti quando fiz a Maratona Maluca. Eu assisti as corridas com o mesmo encanto que eu assistia quando tinha 5 anos de idade. E olha que naquela época o desenho já era considerado velho. Penélope Charmosa e a Quadrilha de Morte já tinham seu desenho próprio, os irmãos rocha evoluíram para o Capitão Caverna...

Mas vamos fazer as contas. Se eu nasci em 1989, foi em 1994 que eu fiz 5 anos e comecei a assistir. A Corrida Maluca foi criada pelos incríveis William Hanna e Joseph Barbera, dos estúdios Hanna-Barbera, entre 14 de setembro de 1968 e 5 de setembro de 1970. 24 anos depois, o desenho ainda conseguia me encantar...

O charme maior dele era o Dick Vigarista e seu cachorro, Muttley. Aposto que todo mundo já se fez a pergunta: “O Dick Vigarista sempre está na frente dos outros corredores para montar as armadilhas. Por que ele simplesmente não vai lá e vence?”. Pois é, eu já me perguntei isso várias vezes... ele se enquadra na mesma categoria de personagem que o Coyote. Masoquistas, lógico!

Brincadeiras a parte, eu trago um dado interessante desses 34 episódios. Se trouxéssemos o desenho para os dias atuais e aplicássemos a pontuação atual da fórmula 1, teríamos os Irmãos Rocha como os grandes vencedores da Corrida maluca, com 112 pontos, seguido de perto pelo carro tronco de Rufus, o lenhador, com 102 pontos.

E por incrível que pareça Dick Vigarista já venceu uma corrida. Pena que ele foi desclassificado na linha de chegada por ter trapaceado na reta final. Quase 6 horas de episódios e uma overdose de diversão! Apesar de ter visto todos os episódios, continuo acreditando no Dick, nem que seja para pegar o pombo alguns anos depois...

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Causos de trabalho

Não sei se é porque sou apaixonado pelo que faço ou se dei a enorme sorte de só achar gente bacana onde estou estagiando. O fato é que além de muita produção jornalística de primeira as entranhas da TV UFMG são uma verdadeira fonte de causos e situações.

...

O silêncio momentânio da ilha de edição é rompido pelo som típico da porta abrindo. Um rangido arrastado que insiste em gemer, por mais cuidado que se tome.

- nhêêê...

Pela porta passa, conforme escutei a descrição de um colega, "A Beleza". Uma das estagiárias de férias, morena, simpática, uma voz rouca, aquele típico óculos de jornalista e uma fita DV nas mãos.

- Aqui, preciso edit.... NÃO! Não acredito que é você? Carlos?? CARLOS?!

Ao ouvir o nome, meu colega olhou para ver quem era a histérica e... não a reconheceu.

- Carlos? Não se lembra de mim? [Ela recompõe a postura e a voz... na verdade, empossa um ar de Femme Fatale] Você não morou no interior de Pernambuco na sexta série? Sou eu, Amanda! Eu sentava na primeira fila!

Segundo me contou, as memórias começaram a fervilhar em sua mente. "Nossa... Amanda? Putz, essa menina nem olhava na minha cara... fazia o tipo 'Garota Malvada'... top da sala... e eu maior 'menino-bizarro-que-não-é-daqui-e-fica-na-dele'"...

- Nossa Cacá - Volta ela a falar aos sussuros, já se sentando no braço da cadeira - Eu era louca por você... ficava procurando um jeito de falar... quando voc... [a voz falha] quando você foi embora eu chorei tanto....

"O QUÊ? Não acredito nisso.... e eu achando que ela nem me via... droga, era a mais bela da sala.. putz, eu era bonito e não sabia... Ninguém nunca me chamou de Cacá... enfim..."

- Olha como são as coisas né, Cacá! A gente, se encontrando de novo aqui em Minas... num estágio... parece coisa de destino... Mas eu estou apenas para o estágio de férias... hoje é meu último dia... quero lhe dizer tanta coisa [diz Amanda, se aproximando à um centímetro do rosto de Carlos]. A gente podia ir num cinema.... qualquer lugar que você quiser, Cacá.

Carlos ficou sem voz, sem ação... Uma mulher linda como aquela, falando daquele jeito com ele... depois de tanto tempo, reencontrá-la ainda mais bonita e mais apaixonada do que nunca??? Naquelas circunstâncias, sendo quem era, só podia dizer uma coisa:

- Não posso.

Quando ele me contou o caso, fiquei atônito, perplexo, surpreso e qualquer outro sinônimo parecido. Por quê diabos ele faria uma coisa dessas? Ela, praticamente, se jogou nele e o cara não fez nada? Pensei tudo isso em uma fração de segundo.. enquanto Carlos respirava. Terminando o caso, balançou a cabeça negativamente, suspirou e disse aquela verdade inegável:


- Esse tipo de coisa só acontece quando estou namorando, viu...


terça-feira, 4 de agosto de 2009

Etiqueta não, tag

Hoje chegou meu exemplar da revista americana Wired, que assino desde mês passado. A matéria de capa chama "As Novas Regras", um texto bem humorado sobre como as novas tecnologias trouxeram com si novas regras sociais. Não li a matéria ainda, mas me deixou pensando em algumas coisas nas que já tinha refletido antes: De fato, há nova maneiras de se comportar hoje, principalmente na internet. Aqui vão algumas sugestões de tag (etiqueta - cujo nome deriva do costume francês de colar uma etiquette na roupa de convidados, na qual havia regras de comportamento para o evento - é um termo ultrapassado) no mundo cibernético:

- No MSN, nunca entre online. Primeiro você deve entrar invisível e olhar quem está. Pode ser que sua entrada dê a impressão de que você quer ser notado e provoque rejeição. Se tudo estiver bem, entre. Se não, fale offline com os contatos desejados e espere aqueles que possam ter alguma objeção a você estar online irem embora. Observe também que se você estava offline e alguém interessante entra, você não deve seguí-lo prontamente. Pode parecer que você entrou por causa dele(a) - o quê você, de fato, fez, mas não é a impressão que quer passar.

- No orkut, nunca escreva scraps com boa ortografia. Isso dará a impressão de que você é um excluído social que, ou dá uma de inteligente e ninguém agüenta, ou ninguém nunca agüentou por outras razões e portanto prestava atenção na aula de português ao invés de conversar.

- No twitter, não deixe que qualquer um o siga. Isso dará a impressão de que você quer ter muitos seguidores (o que você de fato quer, mas mostrar isso é meio patético). Seja seletivo e delete uns três. E faça cara de nojo quando alguém falar sobre seguidores. Isso é tããããão de gente exibida. Ah, e retwitte. Muito. É chique.

- No facebook, atualize sempre. Tipo todos os dias. Toda hora. Agora mesmo. O que você está fazendo que não está lá?

- No plurk... não tenha plurk. Ninguém mais tem.

sábado, 1 de agosto de 2009

Tributo ao Surrealismo

Surreal... tudo é tão surreal por aqui...

Tudo aqui é fruto o inconsciente! Não tem truque, é simplesmente a mágica surrealista. Querem que eu ensine como tudo é feito? É simples... escolha um lugar, não precisa ser bonito, precisa apenas ser favorável à concentração do seu espírito. Esqueça de tudo, esqueça dos problemas e torne-se mais passivo às idéias. Abstraia sua genialidade. Só então é que você deve começar a escrever. Mas escreva sem um tema determinado, escreva o que vier na sua cabeça. Continue pelo tempo que quiser. Escute aquela voz que reside dentro da sua cabeça e deixe-a falar mais alto.

Mas ainda dizem que nós somos loucos, ilógicos. Nosso ideal é apenas atingir o máximo da alma. Apenas tentamos eliminar as máscaras que a burguesia usa e tenta impor para todos nós. Tentamos apenas atingir e expressar o sonho, que mal há nisso? As pessoas que nos criticam são realistas demais, deviam experimentar o modo Surreal de criar.

Quem sabe assim eles teriam algum prazer na vida. Um prazer Surreal, além de qualquer tipo de explicação. Quem sabe isso não pode vir na forma de uma mulher? (...) Românticos?? Quem sabe... Para nós, a mulher é o ser supremo, adorado para todo o sempre. Ela é a forma de vida mais inocente e pura, ligada ao mistério e à magia. Nosso amor é louco, desvairado, mas deve ser recíproco e único! Você pode ter muitas mulheres em sua vida, mas somente uma vai ser o seu par perfeito, aquela pessoa que te complementa.

E essa é uma das nossas principais funções nesse mundo... amar! E transformar a vida em poesia. Que o ato de amar seja um ato poético em sua mais elevada totalidade. E que todo ato humano seja um ato de amor. Unir poesia e transformação social, a seguir mover os céus e a terra para dar-lhes expressão no mundo real. Esta é a motivação maior dos surrealistas, de todos os tempos e nações. Mas até esse é um conceito que é questionado por nós... surrealistas. E assim nós vamos, vivendo de um músico surreal em outro...