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segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O texto é meu e pronto

Eu estava sentado no balcão de um simples salão de festa quando ele me cumprimentou:


J. - Hey! Tudo bom?

M. – Eu te conheço?

J. - Sei lá. Você acabou de dizer “quando ele me cumprimentou”. Só estou seguindo as regras.

M. – Que maluquice é essa de se referir à narração do texto?

J. – Que maluquice é essa de escrever um texto onde você é narrador, personagem (até aí tudo bem) e autor ao mesmo tempo? Faltou à aula de Teoria da Literatura? Narrador e Autor são pessoas diferentes.

M. – Como eu posso ser o autor e escrever minha própria vida?

J. – Ora, não é nisso mesmo que você acredita, Senhor Livre-arbítrio-a-qualquer-custo? Enfim, meu nome é Juan (putz, você tá sem criatividade pra nomes hoje, hein?!) e vim aqui para lhe ajudar com as mulheres...

M. – Primeiro, quem disse que preciso de ajuda com mulheres? Segundo, já que esse texto é meu, vamos fazer dele alguma coisa mais útil.

J. – Mais ú... peraí, você disse útil? Ah, então tudo bem. Achei que havia dito melhor, já ia te perguntar o que era melhor que mulher... Texto mais útil como?

M. – Uai, é como o professor de Literatura diz... Um texto tem que carregar alguma discussão profunda debaixo dele... Suscitar uma boa reflexão...Sei lá... Discutir a própria Literatura e seus elementos constituintes... Ou alguma coisa mais sociológica do tipo: como existem pessoas machistas nesse mundo e sobre o feminismo oportunista de hoje em dia... Ou ainda poderia apresentar os conflitos psicológicos de uma geração de jovens ávidos por desafios, mas perdidos em suas próprias palavras inebriantes...

J. – Ah, claro, senta lá, Cláudia.. Não quer acrescentar uma crítica feroz ao jornalismo apático e mentiroso que se pressupõe objetivo caminhando sobre o bem e o mal, não? Por favor! Você acha mesmo que conseguiria fazer isso? Para ser bom escritor tem que ser bom leitor... Você leu, no máximo, uns 50 livros até hoje e deve ter prestado menos atenção neles do que em jornalzinho de ônibus... Mas por falar em crítica literária... você tem escrito muitos diálogos, né? Ta começando a ficar previsível...

M. – Ou posso estar começando a achar meu estilo!

J. - Diálogos são muito complicados de entender... Quem lê se perde...

M. – Qual é... Eu coloco a inicial de quem está falando antes da fala... e quase nunca tem mais que três personagens na mesma cena... Sem falar que a leitura fica mais dinâmica e aproxima mais o leitor da narrativa... Estou te falando, acho que essa é minha "estética literária"...

J. – Pelo bem do mundo, espero que não.... Me vê duas caipi-vodkas aí, chefe!

M. - ...

J. – O QUE É ISSO?!


Juan ficou estupefato com o corpo que viu atrás do balcão...


J. – E com o preço dessa caipi-vodka também! Mas você-narrador é quem manda... MEU DEUS, UM CORPO ATRÁS DO BALCÃO!? Olha, cuidado com esse tanto de conflitos nesse texto, você ainda tem que explicar o título, dar um desfecho que preste, o lance com as mulheres e agora esse corpo... isso vai ficar gigante, ninguém vai ler até o final....

M. – Ninguém nunca lê mesmo... E vamos parar com isso de “esse lance com as mulheres”.. que lance?

J. – Ora, você inventou um personagem todo despojado como eu, com o nome de Juan e nos colocou aqui, em um salão de dança cheio de gatinhas... Cara, todo mundo já percebeu que tudo isso não passa de uma embolação sem fim pra você escrever sobre essa tal fase “eu cansei de ser bonzinho” que você está passando, Mizaru...

M. – Juan, você nem me conhece, não sou tão clichê assim... Costumava ser, mas não sou mais...

J. – Tá tá... Escuta só A Verdade. Olha pra pista... Todas essas mulheres estão aqui para jogar... Tudo é um jogo... E, para elas, o vencedor tem que seguir quatro critérios muito simples. Você tem que ter Isenção [não se apegue a nenhuma delas], Pluralidade [Ora, todo mundo se cansa rápido... aproveita que o público tem memória curta e diversifique seu número de presas ao máximo], Clareza [Sem piadinhas racistas... estou falando aqui de ser claro, vai direto ao ponto, se precisar, chega beijando] e, claro, ser Correto [Quer dizer, um cara reto, nenhuma mulher gosta de pessoas tortas – em qualquer sentido – você tem quer ser sempre ereto nas suas ações].

M. – Parabéns, você é quem escreveu o Manual do Pegador?

J. – Percebi seu sarcasmo. Mas, pra ser sincero, aquilo é o maior plágio da história... Enfim, o que eu disse era na teoria, na prática eu fiz um sisteminha pá-pum: Look, check e get.

M. – Por quê em inglês?

J. – Porque fica mais cool e style... Em Português seria algo como Olhar, checar e pegar.

M. – Detesto quando pessoas dizem “seria algo como” antes de traduzir alguma coisa que é EXATAMENTE como ela diz e não “algo como”...

Juan não me deu atenção e só pediu para que eu o olhasse em ação. Virou-se para a primeira que viu. Colocou-a de costas para mim, para que eu pudesse o ver sobre os ombros dela. Juan a olhou nos olhos, deu-lhe uma bela apertada entre as pernas, fez um sinal de positivo para mim e tacou-lhe um beijo de cinema igual o tapa que levou logo de volta. Voltou massageando o rosto e me vendo gargalhar

J. – Buscar inspiração em Splish Splash do Roberto Carlos foi tenso.... E, pro seu governo, na música o beijo e o tapa não são como de cinema, mas sim no cinema. De qualquer forma, valeu a pena. Peguei, né? O que você está anotando? Que papel é esse?

M. – Um texto que estou escrevendo...

J. – Ah, o título... Não pergunto mais nada. Isso já está muito metalinguístico pro meu gosto... Se desse algum palpite, aposto que você me responderia “O texto é meu e pronto”... Mas e aí? O que achou do meu método?

M. – Péssimo, não é pra mim. Cara, eu procuro uma coisa diferente. Uma relação baseada na cumplicidade, na confiança. Onde, juntos, duas pessoas possam compartilhar momentos legais e construir coisas bacanas... HEY, ACORDA!

J. – Desculpa... Peguei no sono aqui... Não eu, claro, mas você sabe que todo mundo acha isso um saco, né? ... Ow... Me larga... Que eu fiz? Qual é? Mizaru, me ajuda aqui... ow....

Só pude ver Juan sendo levado pro cantão por um brutamontes gigante que, a supor por como a mulher que Juan tinha acabado de beijar chorava copiosamente, era o esposo chifrudo. Ainda consegui ouvir meu “amigo” dizer uma coisa:

J. – Mizaru, a morta... A morta do balcão!!!

De repente, a mulher do outro lado do balcão levanta e sai resmungando: Meu Deus, tenho que parar de beber....


Vou aproveitar o momento pra avisar: Quem quiser deixar sugestões de temas ou simplesmente frases pra eu escrever sobre semana que vem... O blog nem tá tão bombante, com mil comentários... aproveita, se vc colocar, provavelmente é a sua que vou escolher...kkkkk... Mas não é garantido... enfim, ACEITO SUGESTÕES!

5 comentários:

Breno disse...

texto comico e dinamico.... gostei...
a eh
consegui chegar ate o fim..
abrass

Alim. disse...

Metalingüística interessante, Tiennin...

Mariana disse...

.. tb consegui chegar ao fim do texto :)

Andreza Brito disse...

Eu consegui chegar ao fim. E como diria um amigo meu: ''Polêeeeeeeeeeeeeemico!!!

Jessica disse...

Juan merecia ter levado mais que um tapa viu hehehe
Adorei o texto! Metalinguagem rules xP