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terça-feira, 14 de julho de 2009

"Só 100 reais", ela murmura antes de entrar. "Só 100".

Ela entra. Como um leão que avista uma manada de gazelas, ela espreita. Esperando pela gazela coxa, ou lenta, ou de pele um pouco diferente, aquela que chame a a atenção e se distinga da manada, tirando a indecisão do leão. Mas nada. Todas e cada uma das peças penduradas são igualmente maravilhosas.

A vendedora está se aproximando. O que poderia ser uma benção é, na verdade, uma maldição dos infernos: A vendedora não vai saber nada. Elas nunca sabem nada. Mas conseguem convencê-la de cometer um erro enorme que ela só perceberá qaundo chegar em casa e deixar as sacolas na cama. O tempo está acabando. No desespero, ela pega um cinto.

Fagulhas sobem pelo corpo. Ele é indescritível. Cada um dos fios de lona vermelha a chama, a seduz. E a presilha! Marrom, brilhante, perfeita. A vendedora chega, mas a cliente já escolheu alguma coisa, e ela só pode dizer: "Fique a vontade". Pode apostar, ela vai ficar a vontade.

O cinto é só o começo. E aquela bolsa lá na penúltima prateleira? E a camisa beige que combinaria tão bem com a calça do Natal passado? E os sapatos pretos que nem os da menina daquele filme?

Os 100 reais, ela percebe, são o que tornam a coisa toda uma caça. Mas, sem esse limite, a compra é uma orgia. Um fluxo interminável de felicidade e prazer, porque os produtos não acabam. 100 reais. Que boba fora. 100 reais e nada é a mesma coisa. 100 reais é tirar um prisioneiro da prisão e continuar a deixá-lo algemado.

Quando chega ao caixa, exausta, sua mão treme. Talvez foi um exagero. Mas, decidida, pega o cartão. "À vista ou parcelado?". "Parcelado". "Em quanta parcelas?". "Qual é o máximo?".

Enfim, sozinha no seu quarto, espalha tudo na cama. Seus bebês. Todos novos, ainda sem conhecer o mundo. Cada um o protagonista de uma história única, especial. Todos... tão caros. Olha para a nota fiscal. Não tem mais dúvidas: Foi um exagero. Um exagero total. No que estava pensando? Entra em pânico. Perde a respiração. Corre para o banheiro. Com mão trêmulas, abre a torneira e molha o rosto.

Mais uma vez. Caiu mais uma vez. E sua promessas, seus propósitos, onde ficaram? Foi tudo pelo ralo. Mas é a última vez. Se levanta, firme, decidida. Da próxima vez, só gastará 100 reais.

2 comentários:

Aline disse...

Nossa, eu escrevi isso e não lembro?!

Brincadeira, sou consumista, mas nem tanto!;)

Beijos, bom post!

Thaís disse...

Nuss O.O ... Isso é que é vício xD

Da uma passadinha lá no meu blog: www.blogeeretc.blogspot.com