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sexta-feira, 3 de julho de 2009

O revés do clichê



- oi!

Ele ficou impressionado com o quanto duas letras, se ditas por ela daquela forma tão única, podiam dizer tanto.

Não fazia muito tempo, Lucas e Mariana se viam regularmente. À primeira vista era um casal típico. Ele, morador da maior cidade do país, advogado e escritor insipiente que morava sozinho há seis anos. Quando o perguntavam quem era, apesar de toda a correria do cotidiano, sempre dizia: “Sou um amante das coisas simples”. Mariana tinha todo o ar de uma jovem mulher do interior, sorriso discreto, filha de um político muito influente na pequena cidade onde vivia, baixa estatura, suas medidas pareciam estrategicamente confirmar o tipo frágil e romântico da clássica donzela que espera na janela. Não foram uma nem duas vezes que perguntaram como aquele relacionamento estava dando certo entre pessoas tão diferentes, ela tinha a resposta na ponta da língua: “Os opostos se atraem”.

Mas isso era só a primeira fase daquela história. Sentados na mesa do pequeno café, mais um momento de silêncio acontecia. Nesses instantes, não raros, nenhum dos dois dizia nada por algum tempo. Lucas era muito observador, algo maravilhoso, dizia Mariana, mas que às vezes a deixava um pouco insegura.

- Diz alguma coisa... – Ousou pedir a garota, com um sorriso leve nos lábios – Mas não vale “alguma coisa”... he he

- He he... Tudo bem, “Por que você se preocupa com o som da minha voz, se é o som do meu coração que devíeis ouvir?” Tristão e Isolda, citado em Romance. Ótimo filme do Guel Arraes – Disse Lucas.

A partir daí, começaram a falar de cinema, mas os pensamentos que se repetiam na mente do rapaz não pararam de fluir. A cada minuto ele percebia que não estava conversando só com uma garotinha do interior, que Mariana tinha força e espírito de liderança muito maiores do que os da maioria dos governantes. Lucas percebia que, para além da beleza que saltava aos olhos de qualquer um que a visse, a “filha do coronel” era uma mulher completamente conectada com os problemas de seu país e do mundo. Uma pessoa altruísta que se preocupava com as pessoas que moravam dentro e fora dos limites da fazenda de seus pais. Apesar de preservar toda a feminilidade interiorana, ela tinha independência e perseverança. Mariana era muito religiosa, não assistia a tantos filmes e odiava Coca-cola.

Lucas também ai muito além do estereótipo. Pra começar, ele não era tão da capital assim, sua família vinha do interior e ele vivera muito tempo longe das metrópoles. Fora seu aspecto frenético do dia a dia, sonhava sempre com um momento fútil debaixo de uma árvore, para pensar e escrever, de preferência acompanhado. Embora preferisse o humor bem elaborado e filmes de trama complexa, também ria e contava piadas bobas feitas para crianças. Lucas ouvia muita música, nunca abotoava o último botão da camisa e insistia em deixar a pasta dental destampada.

Eles não eram totalmente diferentes e muito menos exatamente iguais. Nem óleo e água, nem gêmeos siameses. Concordavam em tantas coisas que chegava a ser espantoso. Porém, pensavam em tantas outras que se conversassem sobre se surpreenderiam com a posição do outro. Mas é isso que solidificava cada vez mais a relação entre os dois, as diferenças. Como a água do mar escorrendo pela areia da praia, os dois se entrelaçam, peculiarmente, um complementa o outro. Se conhecendo, eles se completam.

Os dois sabiam disso, às vezes vinha o medo, às vezes era um estímulo. O fato é que, da próxima vez que alguém perguntar sobre como se dão tão bem assim, talvez, eles não se classifiquem mais como opostos, mas digam simplesmente: “Os complexos se complementam”.



P.S.: Me desculpem pelo atraso. Devia ter postado ontem, mas foi meu último dia de aulas e não PODIA fazer nada no mesmo dia mais... hehehe.

5 comentários:

Buono disse...

Muito bom mesmo!!!!

Nath disse...

Texto mais lindo já escrito por você, Mizaru.

Não sei fazer grandes comentários, mas esse é aquele tipo de texto que me faz sorrir no final, por pensar que ainda existem pessoas que escrevem com lirismo sem parecer clichê ou brega. :)

Parabéns por isso. Ler "Como a água do mar escorrendo pela areia da praia, os dois se entrelaçam, peculiarmente, um complementa o outro. Se conhecendo, eles se completam..." fez com que eu ficasse mais feliz hoje.

PS.: Queria ler esse texto manuscrito. Tem coisa mais real e bonita que isso?!

beeijo

Lígia Souto disse...

Gostei bastante do seu texto Mizaru. Incrível como ele aproxima da nossa realidade e como já dito sem o clichê chato.

bjao

Mariana disse...

... Meus olhos se depararam com aquela imensidao azul e me dei conta que olhava o "çéu".

Como sempre, seus textos são ótimos!

Alim. disse...

Às vezes dá até medo de vc, cara...
vc é foda msm!!

O pessoal da nossa turminha tem futuro msm...huaheaue...