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terça-feira, 8 de setembro de 2009

A comida da alma

Semana do Cinema Alternativo na cidade. Osvaldo nunca oviu muito, não se interessa. Que vão todos os alternativos lá ver, ele fica em casa com sua Tela Quente.

Esse ano, no entanto, sua esposa insiste que eles devem ir em pelo menos um filme. "Você não tem cultura, Osvaldo, é um ignorante", diz ela. "Vamos. Vai te fazer bem, expandir seus olhares". Expandir só se for meu sono, pensa Osvaldo. Mas quando a esposa encuca com algo não adianta discutir.

A velada começa quando chegam ao cinema. Até que o lugar não é ruim. Pitoresco, poderia se dizer, com seu pequeno restaurante no fundo e uma livraria do lado direito. Osvaldo até sente que voltou a sua juventude, quando cinema não era em shopping. Pode ter sido uma boa idéia.

As opções são variadas: Tem um filme francês, um japonês, um americano e um de uma nacionalidade de que Osvaldo nunca ouviu falar. Ele sugere, tentando se adaptar ao clima, o francês. A mulher retruca instantâneamente. "Ai, Osvaldo, você não sabe nada. Francês é coisa do pasado agora. Vamos ver o japonês. Eles é que sabem de cinema hoje em dia". Osvaldo não discute. Pagam o ingresso, entram na sala e as luzes apagam.

O filme começa. Dois garotos orientais andam lado a lado, numa rua deserta. Eles não dizem nada. Andam por dez minutos, nos quais não acontece mais nada, só isso. De repente, um deles tira a camisa. O outro o imita. Eles continuam andando, tirando a roupa até estarem completamente pelados. Osvaldo quer sair do cinema. A mulher o segura. "Calma, Osvaldo, pára de ser preconceituoso".

Os meninos somem. Surge um cachorro na tela. Ele fica caminhando na rua, até que aparece uma mulher. Ela tem um cinto na mão, com o qual começa a bater no cachorro. O cachorro não se mexe, enquanto a mulher continua batendo. O sangue jorra. O cachorro morre desangrado. Osvaldo se levanta. A mulher o puxa. "Você está sendo um ignorante".

A mulher e o cadáver do cachorro somem. Aparece um carro na rua. Ninguém o dirige. No seu caminho há arvores, que são derrubadas pelo carro ao passar. Por vinte minutos, o carro derruba árvores. Osvaldo dorme. A mulher o arcorda. "Pare de ser um bruto".

O carro e as arvores somem. Surge um casal fazendo amor em câmera lenta. Aos poucos, eles vão virando pedras, até serem dois rochedos um ao lado do outro. Mais trinta minutos de rochedos estáticos. Osvaldo reclama. A mulher o silencia. "Você não tem alma artística".

As pedras somem. Aparece uma vaca. Ela pasta do asfalto, comendo grandes pedaços de concreto. Come por quinze minutos. Osvaldo simplesmente olha para a mulher. Ela não reclama. Os dois saem de fininho.

"Qual era o nome do filme?", pergunta ele, a modo de comentário.

"Yoguro, amigo meu", responde a mulher com amargura.

Um comentário:

Jessica disse...

ahaiaaaahaua
pior que super imagino um filme exatamente assim passando no Indie.
Escreve o roteiro e vende pra alguém com sobrenome oriental que vc vai ganhar uma grana boa! =P