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terça-feira, 22 de setembro de 2009

Vejo uma idéia em seu passado

Uma música muito bonita em espanhol possui a seguinte frase: “a dónde van las palabras que nunca llegaron al papel” (acho que a frase dispensa traduções). Essa é uma pergunta que ronda minha cabeça já por um tempo. Como eu disse no primeiro post deste blog, ter idéias e não fazê-las é uma das minhas especialidades. Tanto assim que enumerá-las pareceu-me uma boa idéia para um post. E essa eu vou cumprir.

Uma das primeiras que lembro foi fazer papel reciclado. Eu devia ter uns sete anos. Peguei várias folhas de todo tipo de papel, piquei, molhei, amassei, misturei com cola e, quando já tinha o que se chama de papel machê (ou seja, uma massa disforme e nojenta pronta para virar o que você quiser), desisti. A dita cuja havia sido amassada na banheira de brinquedo de uma das bonecas de minhas irmãs; ainda hoje a banheira lilás cheia de papel machê me assombra, como um fracasso que ainda não superei. Demais está dizer que a banheira foi esvaziada no lixo e devolvida a sua verdadeira dona.

Outra foi fazer perfume ambiental. Amassei vários tipos de folhas de árvore, juntei com casca de laranja e joguei tudo num vidro de café. Voilá. O aroma exalado era bom até pelos padrões dos adultos, que elogiaram meus dons. No entanto, para sentir o cheiro precisava-se cheirar na abertura do vidro. O danado não se espalhava. Isso não me deteve: Inventei a técnica de colocá-lo frente a um ventilador. Um sucesso. Mas ele acabou subindo à cabeça: Eu, com oito anos, e minha irmã, com cinco, tivemos a visão de uma produção em massa, com perfumes feitos segundo a vontade do cliente. Começamos a separar as folhas e cascas em sacolas plásticas, ingredientes que seriam servidos conforme requisitado. Não demorou um dia para eles mofarem. Mais uma idéia que acabou, literalmente, no lixo.

Houve outras que inclusive encontraram aprovação fora de minha família. Com doze anos, resolvi virar espião. Peguei um caderno e várias canetas coloridas e comecei a xeretar a vida dos outros. Deu certo, até ganhei outros seguidores. Mas aí mudei de país. Mesmo assim quis continuar. Adivinha o quê? Acabei esquecendo. Meu mundo de óculos escuros e chicletes de menta (que eu achava essenciais para ser um espião) esvaiu-se.

Minhas experiências com blogs não podiam deixar de entrar na lista: Dos que mais serviam como um Orkut porque só umas três pessoas comentavam, aos que tiveram só um post (e foram vários)... a gama é variada. Todos esquecidos. Exceto esse aqui (por enquanto).

Incontáveis livros foram começados, até o último detalhe já planejado. Com o primeira página de cada um deles eu fazia uma Bíblia. Não preciso falar que nenhum passou do terceiro capítulo. Fazer o quê. O único romance que já escrevi até agora foi o que eu não sabia muito bem como iria desenrolar. A improvisação me levou pelo caminho. Se eu souber cada passo que vou dar, para quê me dar o trabalho?

Houve também uma época na que achei que sabia desenhar. Comecei meu próprio mangá. A única página que ele teve deve estar metros e metros baixo terra, junto com outros dejetos. Comics americanos também foram alvo de minhas maquinações, mas nunca tive a coragem de começar nenhum.

Enfim, acho que dá para ver que tenho mais idéias das que posso executar. Mas suponho que uma bem executada equivale um Nilo das que foram abortadas.

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