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quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Só um minutinho...

Depois de uma típica noite de universitário [ou seja, ido dormir às três e meia da manhã], lá estava eu, cinco e quarenta na rodoviária. Afinal, iria pegar um ônibus para Luz, a megalópole de Minas, que partiria às seis horas.


Como ainda faltavam vinte minutos e eu não tinha comido nada, fui até a lanchonete. A viagem seria longa então, queria escolher um daqueles combos de sanduíche com batata e refri. Ia pedir um com o sanduíche mais simples, era quase um misto [o preço era de um X-TUDO, mas era quase um misto... enfim, normal].

Antes de pedir, eu quis me prevenir, detesto imprevistos:

- Moça, escute. Eu queria uma promoção número 3...

- R$ 9,54, senhor. – Ela interrompeu.

- Calma, ainda não pedi. Eu quero saber primeiro quanto tempo vai demorar... Tenho que sair às seis em ponto.

- Não se preocupe, vai levar só um minutinho – Disse a atendente com um sorriso mecânico que mais parecia dizer “que diferença faz? Gaste seu dinheiro!”.

Bem, não havia escolha. Eu estava faminto e fiz o pedido.

As rodoviárias são lugares muito interessantes, sempre há pessoas que dariam ótimos personagens. Como um bom apreciador de causos, eu decidi dar uma volta pelo saguão e inventar mentalmente, claro, histórias para quem eu via.

Os tipos são bem clássicos. Tem aquela família que está indo visitar os parentes do interior; A dondoca com quatro colares, sete pulseiras e não para de falar ao celular que se acha muito sofisticada e rica [mas que na verdade deve ser uma grande iludida, já que está numa rodoviária e não num aeroporto]; Tem também o tipo misterioso e carrancudo vestindo roupas de tom discreto que se senta na ponta da fileira de cadeiras e fuma um cigarro olhando fixamente para um ponto só [pode ser ou um procurado da lei que está tentando fugir de ônibus, porque que é menos extravagante, para a Argentina ou um lunático qualquer que nem passagem tem].

Nesse meu passatempo autista passaram-se dezenove minutos. Cinco e cinqüenta e nove: Voltei à lanchonete, o pedido não estava pronto, obviamente.

- Com licença, senhora. Poderia olhar meu pedido? Número 34. Tenho que partir!– Falei com a primeira que vi [Esqueça aquele esteriótipo de jovem garçonete meiga e de beleza impecável. Na vida real esse tipo de mulher é atriz e as garçonetes são muito mais, digamos, “humanas”]

- Um minutinho, sim? – Disse ela, atendendo mais sete pessoas ao mesmo tempo.

Poxa, como pôde demorar tanto? Quase vinte minutos para fazer um “misto quente” e chamuscar as batatas na gordura.


- Um minutinho? Um minutinho é o tempo que tenho para entrar no meu ônibus! Senhora, eu tenho o direito de ter meu dinheiro de volta! [Nem sabia se realmente tinha, mas nessas horas qualquer coisa é direito seu].

E, menos por mágica que pelo medo de perder a venda, a gerente me aparece com o lanche pronto. Agarro a embalagem com uma das mãos e a copo com a outra.

Seis em ponto. Eu corria com o máximo do meu fôlego, minha plataforma de embarque era do outro lado da rodoviária [Maldito Murphy!]. Escuto um apito, não paro. Nunca paro para chamados indeterminados, se quer me cumprimentar na rua me chame pelo nome. Nunca assovie, grite “ei” ou afins, odeio pessoas que fazem isso.

Mas foi inevitável parar quando ouvi: “Ei, você do sanduíche, pare agora! Isso é uma ordem!”. Olhei para trás, era um guarda. Eu sei que correr feito louco por aí pode ter várias explicações para um oficial da lei, mas logo naquele dia? Justamente naquela hora? Azar pouco é bobagem!

Parei, o “homem da justiça” me perguntou aonde eu ia, contei e ele não acreditou. Pediu documentos, vasculhou todos os meus pertences, puxou uma conversa estranha sobre temperos e produto de limpeza para bebês [?!] e pediu minha passagem. Pude notar nos olhos do oficial um repentino arrependimento quando ele viu o horário do ônibus e percebeu que, por mais absurda que fosse, minha história podia mesmo ser verdadeira.

- Muito bem, meliante! Estou de olho em você. Por hoje pode ir, mas não faça gracinhas!

Seis e quinze. Eu devia me conformar e ir embora. Mas, eu sou brasileiro e... sei quão pontuais costumamos ser.

Fui averiguar e o veículo ainda estava parado na saída, num lugar onde fazem uma última vistoria antes de partir. Parece que encontraram alguém tentando levar orégano e talco infantil demais para Uberlândia. Nem cheguei a ver o contrabandista excêntrico. Caso ele leia isso, muito obrigado mesmo, bambino!

É isso gente. Tenho um assunto pra resolver agora, vou ali e já volto. Um minutinho só... [semana que vem tem outra postagem minha].


7 comentários:

Buono disse...

porcos da lei malditos...

ja fizeram parecido comigo... eu estava de moletom com capuz correndo, mas era pra fugir da chuva...

o puto resolve me parar e me dar uma geral embaixo de chuva... vê se a gente merece isso??

bom post macaco!!

Jessica disse...

aaahauahauahaauah
só você mesmo viu porquinho? murphy é de fato seu amigo!
amei o post!

Ludmylla disse...

Aaaah nem! Fui enviar meu recado e deu erro, agora tô com preguiça de escrever tudo de novo! hauahau... :]

A última vez que fui pro Rio eu também quase pedi meu ônibus! Minha 'sorte' é que tinham uns farofeiros lá com quilos de bagagem se ajeitando ainda...

Adoro a última imagem, mas esse sanduíche hein? hauahaua!

Mais sorte da próxima vez, beeeijos!

Anônimo disse...

HUAHUAHUA traficando temperos e produtos de limpeza hein!!
esse macaco eh u mais azarado de todos, mas fico mto bom, a narraçao toda ilustrada (apesar de algumas fotos num terem nada a ve mas tudo bem)

Anônimo disse...

Parabéns, Tiennin, a crônica ficou boua...
realmente parece ser uma história real!
As descrições ficaram bouas..
suas críticas demonstram sua utopia, mas tudo bem!!
Huaheaueh...
Abrass

Michell Lott disse...

O QUE ?
ISSO FOI TUDO INVENTADO?
NÃO ACONTECEU DE VERDADE?

Poxa, so porque eu ia falar que era o melhor texto aqui até hoje!


PS: o comentario é porque gostei mesmo, nao porque voce me pediu rpa vir aqui no msn, viu Ennio?

MUAUAUAU

Pedro, o Nogueira disse...

NÃO É DE VERDADE????
Se fudeu. Eu ia deixar um comentário SUPER babando seu ovo agora, mas nem vou mais. FIquei desiludido