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quinta-feira, 18 de junho de 2009

Mas já decidiram?

Quarta feira, 18 de junho de 2009.


Eu estava tranqüilo e calmo terminando de escrever minha crônica da semana para postar no 3B nessa quinta. É sobre como foi a comemoração dos Dias dos Namorados na minha cidade de origem, a Megalópole de Minas, Luz.

Enquando terminava de digitar as últimas frases, uma janela de msn piscou no canto da tela do meu computador.

- Mizaru, oito a um! Infelizmente. – Dizia a mensagem.

Eu já acompanhava as movimentações durante a tarde, apreensivo e ansioso. O problema [ou não] é que viajo longe quando estou escrevendo. De tranqüilo e calmo, subitamente, fiquei estressado e incrédulo: “Não pode ser, não pode ser....”

Mas era. O Supremo Tribunal Federal havia terminado de votar a Lei de Imprensa e a obrigatoriedade do diploma para exercer o Jornalismo foi abolida no Brasil.

Ontem, a blogosfera pirou. Sério pessoal, entrei nos blogs que costumo acompanhar e os jornalistas estavam num debate ferrenho. Se quiserem conferir parte disso, indico o “O biscoito fino e a massa”. Assim que saiu a decisão, o Idelber postou uma pequena lista com vários artigos de jornalistas se posicionando, a favor ou contra a postura do STF.

http://www.idelberavelar.com/



Com tudo isso acontecendo, por mais que esse blog seja livre, literário, engraçado e às vezes inútil, nós, os três macacos, somos todos estudantes de jornalismo. Então me senti obrigado a expor o que penso da discussão sobre o diploma.

O ponto mais importante que deve ser explorado, penso, é o quanto esse problema foi pouco debatido. Já li em alguns lugares que essa é uma “discussão antiga do jornalismo”, se é antiga acontecia no lugar errado ou, no mínimo, faltaram lugares certos para participar. Exemplo disso é a Universidade. Os estudantes, professores e profissionais ligados à area, deveriam ter voz nessa decisão.

Conversando com alguns professores meus, pude constatar uma opinião que têm sido negligenciada por muitos: existe um “fazer jornalístico” que não pode ser negado. Vários pesquisadores dedicaram, e outros tantos continuam dedicando, a vida inteira para desvendar esse mistério. Tentar se aperfeiçoar na arte do “bem comunicar”, transmitir uma idéia, perceber e dialogar com quem lê/assiste/ouve/navega. A [boa] universidade dá ao profissional de jornalismo formado por ela a capacidade de ir além de fazer matérias. Esse profissional debate, critica e desenvolve suas práticas.

O mais triste de tudo é ouvir argumentos tão estranhos quanto os que têm surgido de quem defende o fim da obrigatoriedade do diploma. Coisas como “para ser bom jornalista é preciso ter talento” ou “Jornalista nasce jornalista” eu não vou nem comentar direito. Pessoalmente, acredito na capacidade de aprendizado de todo ser humano sadio para qualquer objetivo, basta se dedicar.

Mas, o que me deixou mesmo chocado, foi uma declaração do excelentíssimo senhor ministro César Peluso ao portal G1: "Não existe no exercício do jornalismo nenhum risco que decorra do desconhecimento de alguma verdade científica". A ignorância [no sentido literal e não como xingamento] de uma figura tão importante em relação ao que julga me preocupa muito.

Como eu já disse, jornalismo não é só escrever. Pelo menos, o bom jornalismo não. Por isso também, tenho receio em aceitar a idéia de que economistas, políticos ou ambientalistas podem escrever matérias tão boas quanto um jornalista bem preparado. Conhecimento específico é uma coisa, uma coisa muito importante aliás, mas domínio no tratamento de informação e técnica de comunicação são outras bem diferentes.

Outro argumento que li bastante foi o de que diploma restringe a liberdade de expressão. Ora, o 3B mesmo é prova que de isso é pura balela! A internet possibilita que qualquer um que fale o que lhe der na telha. Foi-se o tempo em que governo conseguia calar completamente a voz de quem tem algo a dizer. Pode mandar embora, dificultar as coisas, mas no fim, a pessoa cria um blog, divulga e publica na web o que não poderia em outro veículo. [E assume as responsabilidades].

O único argumento que achei mais aceitável foi o de uma aluna de Comunicação aqui da UFMG. Para ela, o jornalismo não deve ser fonte de renda de ninguém, não no sentido que conhecemos. Sem a pressão dos salários [tenho que pagar contas, tenho que comer e etc] talvez a notícia fosse menos influenciada por interesses externos. Por isso, diploma não faria diferença. Mas isso é uma questão maior, um pouco filosófica sobre “o que é o jornalismo” e acho que passa bem mais pela ética do que pelo diploma exigido.

As coisas estão muito mal explicadas e foram resolvidas precipitadamente. A SERTESP (Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo) conseguiu com um lobby tremendo um parecer favorável da corte do STF, mas essa discussão ainda vai longe.

Por enquanto, o que resta é se agarrar à COMPETÊNCIA e buscar incessantemente a aprimoramento profissional ainda mais. Sem diploma exigido, quem pretender ser jornalista vai concorrer com jornalistas formados e outras pessoas que acreditam que saber escrever é sinônimo de informar com qualidade. Mas caso você não queira essa concorrência toda, arrume alguém para esquentar suas costas porque, infelizmente, essa é a técnica que tem sido mais eficiente pra conseguir um emprego na área hoje em dia.


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P.S.: Todas as opiniões acima são pessoais, não discuti com os outros macacos. Portanto, não necessariamente, esse artigo expressa a opinião de Kikazaru ou Iwazaru.

P.S.2: Seguindo a Tese do Kika: Hoje [quinta] só termina quando eu dormir.

P.S.3: Semana que vem posto a crônica sobre o dia dos namorados em Luz.

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