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terça-feira, 2 de junho de 2009

O Inusitado

O humor de uma crônica, como é bem sabido por muitos, consiste no inusitado. No meio de uma cena corriqueira, ou que fuja à rotina mas mesmo assim se encaixe nos padrões do normal, algo deve acontecer que tome o leitor, e talvez as personagens também, completamente por surpresa.

Para fazer uma crônica engraçada, então, procuremos uma situação corriqueira. Talvez, uma família de classe média. Saõ as seis, todos voltando de suas respectivas atividades. Agora, coloquemos uma supresa, não tão chocante, mas que pode adicionar um pouco de humor ao assunto. Por que não, a mulher, tradicional dona de casa, estava com o amante e perdeu a noção do tempo. Entra em pánico quando ouve a porta da frente abrindo e as vozes do marido e as crianças.

Ainda falta algo mais... Ah, sim. O amante é colega do marido, e hoje alegou estar gripado e faltou (ele também é casado). Assim como a mulher, entra em pânico e, como todo amante nessas horas, corre para o armário, semi nu. A mulher procede a pegar rápidamente as roupas e jogá-las dentro do móvel, que fecha no segundo exato em que o marido entra no quarto.

- Boa noite, querido! - diz, fingindo que se preparava para tomar um banho.

- Oi, amor. Como foi o dia? - pergunta ele, sentando na cama. Reparando que está desfeita, pergunta - Cochilou um pouco?

- É, eu estava muito cansada - responde ela, terminando de tirar a roupa e entrando no chuveiro - Como foi o dia? - repete.

Repare, leitor, que é insitindo na pergunta que ela está nos levando ao ponto crucial da história, onde acontecerá o humor.

- O João faltou - responde o marido, referindo-se ao sócio - Parece que está com gripe. E ele não podia ter escolhido um dia melhor.

A mulher tira a cabeça do chuveiro.

- Foi tão ruim assim?

- Não estou sendo irônico - responde o marido, que já tirou os sapatos e agora afrouxa a gravata - Eu me saí bastante bem com o chefe hoje. Lembra outro dia quando te falei que esqueci de enviar um dos contratos para um cliente? O chefe veio me xingar hoje, mas conveci ele de que tinha sido culpa do João.

A mulher quase escorrega no chuveiro. Ouve-se um barulho abafado no armário.

- Querido, achei que fosse amigo do Jõao - diz ela, massageando nervosamente o cabelo.

- Sabe, a nossa relação nem é mais a mesma que antes. Ele ficou muito desligado de todos, não sei porquê. Até se diz por aí que a Fernanda - a mulher dele, leitor - está tendo um caso com alguém da galeria dela.

A mulher deixa cair o xampu. O armário treme novamente.

- Mas ainda nem falei tudo - continua o marido, desabotoando a camisa - O chefe acreditou em mim e começou a criticar o Jõao. Acabou convencido que ia ter que demitir ele e passar a gerencia da área só para mim. Eu vou ganhar o dobro!

A mulher deixa condicionador cítrico entrar no olho. Um cabide quebra dentro do armário.

- Agora tudo vai mudar, querida! As crianças por fim vão ter mais coisas, você vai poder ficar mais arrumada, eu vou comprar aquele carro que te mostrei outro dia... - enumera o marido, reflexivo, enquanto tira as calças e se dirige ao armário.

A mulher, que novamente tinha tirado a cabeça do chuveiro, vê a cena e desespera.

- Querido, não abra o...!

Tarde demais. Um frente ao outro, de cuecas, os dois homens se encaram calados.

O que acontece agora, você se pergunta? O única coisa lógica que poderia acontecer no final desta crônica: O marido afasta um pouco para João sair do armário, com as roupas na mão, e deixar a casa.

Um comentário:

Kenia Soares disse...

haha muito legal! adorei as tres bananas!