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quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Bad server


Fechou a boca, entreabriu os olhos lentamente, girou na cama devagar e se deixou ficar ali um pouco mais... Dois segundos mais. Foi o tempo que seu cérebro levou para processar as horas que viu no despertador: 08:25!

 - Maldito despertador! Estragou de novo?

            Como sempre, não haveria tempo para arrumar a casa. Vestiu rapidamente a primeira camisa que viu pela frente. Escovou os dentes resmungando do despertador. Olhou no espelho, estava horrível, pensou em pentear os cabelos – 08:29!

Voltou para o quarto, juntou todos os papeis no chão e colocou na mochila. Roteiros, pautas, transcrições, matérias escritas pela metade, fotos... Por algum motivo ele não gostava muito de digitalizar seus trabalhos, sempre tinha uma cópia impressa. O motivo? Alguma coisa a ver com o “jornalismo romântico”, sem crtl+c / crtl+v.

            Ao sair da garagem, ligou o rádio, nada.

            Nada, nenhuma estação estava funcionando. Marcos se lembrou que o despertador havia estragado também, estranho. Ele teve a sensação de que estava deixando passar algo muito importante. “Por que ninguém da redação ligou? Eles sempre ligam em caso de atraso”. Quando pegou o celular para verificar as chamadas perdidas, sem sinal.

            Marcos olhou para as pessoas na rua. Elas não estavam apáticas como de costume, estavam assustadas, corriam desesperadamente para todos os lugares.

            Nesse momento, alguma coisa atingiu o vidro de seu carro. Assustado ele conferiu que não passava de uma folha de papel. Olhou novamente, com mais cuidado. Não era uma folha de papel qualquer, era a edição de hoje do jornal onde trabalhava. Uma edição estranha, em folha única, como panfleto. Um pequeno texto confuso sob a manchete: Desconectados!

            Marcos saiu desnorteado do carro. A redação não era tão longe, ele conseguiria chegar andando. Enquanto caminhava ouviu os boatos pelas calçadas. Diziam que era o maior ataque terrorista de todos os tempos, que era o fim do mundo, que os “caras de colarinho branco” haviam passado dos limites. Era o caos completo.

            A redação estava vazia. Subiu os degraus do prédio, antes barulhento, como se subisse a torre de uma masmorra abandonada. Chegou à sala do Editor. Ele era um homem baixo e gordo, com bigodes enormes e uma careca reluzente. Geralmente enérgico e impassível. Agora parecia um órfão abandonado e aos prantos.

            - Marcos? Marcos?! É você mesmo?

            - O que está acontecendo, Brandão? Onde está todo mundo?

            - Ninguém veio. Eu fechei a edição especial sozinho. O jornal está acabado. Tudo está acabado.

             - Eu não estou entendendo nada! Olha, aquele whishy de ontem acabou com minha cabeça. Explique melhor esse papo de “tudo acabado”.

            - Em que mundo você vive, Marcos? TUDO ESTÁ ACABADO! TUDO! Todas as redes de comunicação foram cortadas, ninguém sabe como nem porquê. Sem internet, sem rádio, sem televisão, telefone, telégrafo, até as bolsas de valores... Tudo está fora do ar.

            - Como isso pôde acontecer? O que o presidente tem a dizer? O prefeito?

            - Não há como saber.

            - Ah sim, sem telefone...

            - Você entende agora, garoto?! É o fim do Jornal. Não esse, mas todos. Sem radiojornais, sem telejornais, sem portais de notícias... Nós estamos de mãos atadas! Como apurar sem internet? Sem telefone? Tudo está acabado...

            Marcos não comentou nada e se aproximou da janela. AlQuaeda? Hackers? Acidente? A campanha de marketing de guerrilha mais idiota do mundo? Tudo parecia igualmente sem nexo e instigante. Seu coração começou a acelerar. Alguma coisa a ver com o “jornalismo romântico”, sem crtl+c / crtl+v. Ele acendeu um cigarro.

            - Eu não sabia que você fumava. – Comentou Brandão.

            - Eu não fumo. As impressoras ainda estão funcionando, certo?

            - Claro...

Nem esperou o Editor terminar sua frase, juntou uma caneta, um bloco de papel e foi em direção à saída. Esse era o maior acontecimento da história e ele não ia deixar passar em branco. Ia, Deus sabe como, descobrir a origem disso tudo, o motivo, os responsáveis. Correr atrás, literalmente. Entrevistar pessoas, mexer alguns pauzinhos... Só precisava de mais uma coisa. Olhou para trás:

            - Brandão, você viu onde eu guardei minha moleskine?


P.S.: O Google vai dominar o mundo

   

E olha que isso já tá desatualizado: Google Latitude

8 comentários:

Aline disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Aline disse...

O mais assustador dessa história é que se isso realmente acontecer, o mundo pára mesmo! Eu, jornalista também, não sei como escreveria uma matéria ou pesquisaria sem um computador.
Pensando bem, vou comprar um moleskine!

Nath disse...

não sabia que esses caderninhos tinham um nome específico xD

muito boa a idéia do texto. :)
e a formatação e organização também! Só espero que isso nunca aconteça, senão perco meu futuro emprego. haha

beijo

Jessica disse...

preciso de um moleskine (ou genérico) now!
Hoje já preciso de um, nem consigo imaginar o que faria numa situação dessas! Fico reclamando de ligar pra meio mundo, e sem telefone!?
é muito estranho como passamos a depender tanto de tecnologia e uma crise dessa desistabilizaria o mundo com certeza!

ps: morro de medo do google. eles VÃO dominar o mundo. o.O

Anônimo disse...

Idéia interessante. Muita gente nunca parou pra pensar em como o mundo seria sem certas tecnologias, e outros sequer conseguem imaignar coisas assim. Mas um ataque às comunicações não é algo tão distante quanto parece, pois o presidente( eu acho, mas era alguem de lá) da siemens ja disse uma vez que a internet é mais vulnerável do que pensamos. Gostei da sua concepção deste mundo Mizaru, uma pena que não detalhou mais, mas acho que uma historia dessa pra ser bem trabalhada renderia um livro inteiro. A respeito da Google (que pode e deve estar lendo isso) acho que foi um projeto bacana, mas agora está se deteriorando por ter caído demais na "comercialidade". Mas os serviços deles são bons, então se eles dominarem o mundo é porque as pessoas se deixaram dominar (sabendo disso ou não) pois, pelo menos em nosso país, a internet é totalmente livre e qualquer um pode optar por outro serviço de busca, e-mail e tudo mais (tentem a busca do cuil, é bem legal e acho que são ex-funcionários da google que saíram pra criar esse)

Pedro, o Nogueira disse...

Posso dizer que eu sou tão viciado que esse post descreve o meu maior medo atual? De acordar um dia e ter dado pau em tudo. acho que eu não vou ter esse poder de jornalista intrépido, vou infartar no ato, quando receber a notícia. Só os fortes sobrevivem.

Unknown disse...

aposto q a inspiração veio do dia q ficamos sem internet e sem rede na tv ufmg, né amigo produtor?! rs

enfim, só com a falta da internet ficamos no maior caos na redação!

medo...

Anônimo disse...

Apocalíptico, Tiennin..
Será q algo parecido virá em 2012? Huaheua...
vc y o Stephen King ficaram de repente parecidos tb!!
Huaeh
Abraço!