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quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Raindrops keep falling on my head

Quem lê o título e conhece a brilhante interpretação de B.J. Thomas da música homônima, pode mesmo chegar a pensar que esse será um texto sobre chuva, alegria, liberdade, calmaria e serenidade... Bem, garanto a chuva.

Há alguns dias, pela quarta vez, abri os olhos, olhei no relógio e vi que ainda eram cinco da madrugada;

- Puxa vida, que calor é esse? Já estou no inferno e nem me avisaram? – Reclamei com meus botões. 

Quando acordei não tive escolha, estava simplesmente derretendo de calor, vesti uma regata. Regata, para quem não sabe, são camisetas sem mangas. Elas são usadas em dias quentes ou por caras que querem se mostrar por aí.  O dia estava, como já disse, cariocamente quente. Eu tinha certeza que todos me zuariam no estágio, mas a sensação gostosa da brisa nos braços foi mais forte que eu.

Dito e feito. Das oito da manhã às doze horas fui zuado insistentemente pelos meu colegas estagiários. Frases irônicas como “Ê, tá fortinho hein...”; “Nossa, Mizaru, pega essa caneta aqui pra mim? Aproveita que você é tão forte... eu não consigo sozinho” ou mesmo as descaradas “Uai ta malhando, cara? Não? Pois é, ta mesmo precisando” me seguiram naquela manhã.

Saindo, às doze, da universidade tive que ir ao centro. Almocei e fui ao ponto de ônibus esperar minha linha. O sol rachando [normal], todas as linhas passaram antes da que eu precisava [super normal], três garotos passaram me oferecendo balinhas e outras bugigangas [normal também. Aliás, não comprem isso, lugar de criança é na escola. XD], puxei papo com uma macaquinha lá no ponto e ela deu mole [ta, isso não é normal, mas foi um anormal bacana].

Cheguei ao centro. Puxa aquilo lá é um formigueiro gigante. Sei que essa metáfora é mais clichê que beijo romântico ao pôr-do-sol, mas é a mais pura verdade. Milhares de pessoas se esbarrando, se “ensovacando”, vendendo, comprando... foi um custo fazer o que tinha que fazer. Tudo ia, relativamente bem. Eram umas quatro ou cinco da tarde quando... começou a chover, digo, o céu começou a cair.

Sinceramente, era uma linda tarde ensolarada e tranqüila, quase primaveril, e em menos de cinco minutos, o céu se fechou e alguém começou a jogar milhões de baldes d’água lá de cima ao mesmo tempo. As pessoas começaram a correr, os carros a buzinar, as crianças ficaram com medo dos trovões, as árvores começaram a cair, alguns malucos começaram a nadar nas enxurradas [ oO ], um velhinho com uma placa no pescoço dizendo “o fim está próximo” começou a urrar euforicamente “Eu sabia! Avisei a todos vocês, seu pecadores! Redimam-se agora ou ardam com o Cão!!” e eu? Eu estava parado sob uma marquise.

Marquise essa que, subitamente, encolheu milhões de vezes. A capacidade era de umas cinco pessoas, bem apertadas, havia cerca de dez! Resultado, todo mundo tava molhando total e, o pior, era um buraco o lugar. O nível da rua era baixo e a tempestade não tava com cara de que ia parar tão cedo. Eu já estava mesmo cogitando fazer uma idiotice quando olhei para frente: o boeiro começou a jorrar água! Calma, calma, não era assim um gêiser, mas o nível da água estava começando a subir.

Água subindo, raios e trovões a todo instante, eu todo molhado e morrendo de frio [estava com a maldita regata, lembram?], longe de casa... O ponto do meu ônibus ficava  há duas quadras dali... Pertinho, pensei... Nem vou molhar tanto assim, pensei... Como eu pude pensar isso? Me digam? O céu estava desabando e eu achando que ia sair seco? Nem os cabelos de Gil Brother – o Away de Petrópolis – passariam por aquilo sem se ensopar completamente.

Enfim, eu tentei. Corri e, como Forest Gump, ouvi balbuciarem enquanto eu passava: “Quem é aquele maluco?”, “Coitado, só pode estar desiludido”. Pelo canto do olho acho que vi um ou dois lunáticos que começaram a me seguir pela chuva.

Como pensei, a distância foi mínima, não cheguei a correr cinco minutos e estava no ponto, mais água que macaco. A guarita mais parecia uma ilha, a enxurrada passava como um rio, na altura do meio fio, os ventos jogavam água para todos os lados e os únicos que não se molhavam [tanto] eram os 44 espremidos sobre o banco.

Novamente, todos os ônibus passaram antes do meu. Dei sinal e ele parou. O motorista me olhou como se eu fosse o Aquaman em pessoa e disse:

- Assim você não entra, rapaz!

- O quê? – perguntei sem acreditar.

- São regras da empresa. Encharcado dessa forma você não pode entrar no ônibus. – Disse irredutível

- Motorista, você viu a tempestade que está caindo aqui fora?

- Só se eu fosse cego pra não ver, amizade.

Quase cometi meu primeiro homicídio nessa hora, fato.

- Que bom então, “amizade”! E, vendo a chuva como está, como o senhor gostaria que eu estivesse? Estou de regata, sem guarda-chuva, morrendo de frio e o senhor vai me fazer ir embora como? A pé?

O motorista se amoleceu, não sem dizer “mas compre um guarda-chuva urgentemente, hein!’, mas deixou eu pegar o ônibus.

Bom, a essa altura eu já estava de ótimo humor. Quando cheguei no meu bairro, adivinhem: não havia chovido por aqui. Aí desci do ônibus, chão seco, sol brilhando... Eu ia andando e todos me olhando com cara de “puxa, bem que ele podia tirar a roupa antes de entrar na piscina”.

Mas eu vi pelo lado bom, havia acabado. Estava há alguns passos de casa, ia tomar um banho e mexer na internet de boa. Quando eu já estava pensando em qual blog ia entrar primeiro, abri a porta e dei de cara com os outros moradores da república.

Eu estava todo molhado, pingando ainda. O negócio é que homem [me incluo nessa] não perde oportunidade de zuar os amigos e até os inimigos, às vezes. Mesmo estando completamente molhado o cara disse: “Que isso Mizaru? Se mijou todo hein!”. ¬¬

Puxa, nem vou comentar o apelido que recebi aqui na república depois desse dia. Mas é engraçado lembrar de umas coisas dessas, desse tipo que só acontece comigo!

4 comentários:

Jessica disse...

sei que você gosta de contar umas anedotas, mas essa é verdade né?
ahauahauaha tadinho!
super já passei por isso.
e me conta, é verdade essa do motorista?? nunca ouvi falar disso, entra cada coisa no onibus... xP
adorei o texto!

Ludmylla disse...

Texto ótimo, gostei muito! :) O tempo está realmente maluco, e ainda tenho que conviver com ar condicionado, me perco totalmente nas variações de temperatura. Nunca sei se levo um casaco de lã ou um biquíni na bolsa! Mais sorte pra gente, hahaha! :*

Anônimo disse...

Haeuaheaue...imaginei tds as cenas aconteceundo com vc, cara!!!
Foi mal, mas é engraçado..mas, talvez, o cara da placa esteja certo, d o fim estar próximo..tem gnt q aposta a alma q acaba em 2012..veremos..
Abrass!

Aline Carvalho disse...

Gostei, Ennio. Me fez rir, é isso que importa.